Aprenda
a não deixar vestígios
Fazer
pesquisas, aceder a páginas, descarregar imagens, ver vídeos, partilhar
ficheiros... Na internet, todas as nossas ações podem ser seguidas. Aliás,
parece que estão mesmo a sê-lo.
Navegar
na internet constitui uma atividade promíscua. De cada vez que introduzimos um
endereço no motor de busca, selecionamos um link ou utilizamos o Google, o
nosso computador troca fluidos digitais com outros equipamentos, servidores e
fornecedores de serviços, na sua maioria desconhecidos ou mesmo alheios à nossa
legislação. O contacto é surpreendentemente íntimo; numa visita, revelamos o
nosso nome, versão do sistema operativo, navegador e localização geográfica.
Com o tempo, a incansável máquina de registar dados terá acumulado milhares de
páginas sobre nós, num arquivo que poderá incluir o nosso endereço postal,
estado civil e financeiro, compras, amigos, inclinações políticas...
Parece
uma conspiração, mas é apenas o capitalismo aplicado à era digital. Há alguns
anos, a maior base de dados pessoais do mundo não estava nas mãos da CIA ou do
FBI, mas nas da cadeia de supermercados Walmart, graças a um engenhoso sistema
através do qual os clientes renunciavam à sua privacidade a troco de um
minúsculo desconto nas compras. Hoje, as entranhas da internet escondem uma
máquina que regista, filtra e analisa sistematicamente todos os nossos
movimentos, com o objetivo de nos vigiar ou vender coisas.
São
como polvos
A
maior parte do tempo, não nos apercebemos. Em troca da nossa intimidade,
a máquina reconstitui o mundo à medida das nossas compras, preferências, amigos
e recomendações. Graças à nossa indiscrição, a Amazon só nos oferece livros que
nos agradam, o Spotify escolhe os nossos grupos preferidos e o Facebook sabe
qual dos nossos amigos faz anos esta semana. Tal como a mais eficiente das
secretárias, a rede digital sabe quem somos melhor do que nós próprios, mas não
trabalha para nós. Somos, na realidade, o produto, num mercado tentacular que
não está sujeito a uma regulação efetiva. De cada vez que criamos um utilizador
numa rede social ou enviamos correio eletrónico, aceitamos que uma empresa ceda
os nossos dados a terceiros ou a um governo para fazer coisas que não sabemos,
sem necessidade de autorização e, muitas vezes, em lugares onde a lei não nos
pode proteger.
Além
disso, os dados mudam de mãos a grande velocidade, quase sempre por dinheiro,
frequentemente por descuido e, no pior dos casos, pela força: há um número
crescente de delinquentes que se interessam por números de cartões de crédito,
transações bancárias, informações médicas...